Papa Francisco na Praça São Pedro, no Vaticano Foto: Dylan Martinez/Reuters |
Em seu primeiro pronunciamento como papa, o cardeal
argentino Jorge Mario Bergoglio, arcebispo
de Buenos Aires, agradeceu as boas-vindas e disse sentir que os cardeais foram
encontrá-lo "no fim do mundo".
O cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, agora papa Francisco, passa por vários questionamentos em seu país por frases polêmicas em relação a temas políticos e é acusado de envolvimento com a última ditadura militar (1976 -1983).
Quando era arcebispo de Buenos Aires, em 2002, o novo pontífice disse que os argentinos deveriam parar de "rezar" para o FMI (Fundo Monetário Internacional) porque isso não ajuda o país a se recuperar de sua maior crise da história.
Na época, ele considerou que o pedido de ajuda não resolveria os problemas do país, que tentava um acordo com o fundo, nunca alcançado.
Dias antes, ele havia dito, na cerimônia da Revolução de Maio, Bergoglio disse que a Argentina estava "à beira da dissolução nacional". Na ocasião, ele não se importou com a presença do então presidente Eduardo Duhalde e afirmou que a classe política deveria ser um pouco menos "egoísta".
DITADURA - Em 2005, o jornalista Horacio Verbitsky acusou o então arcebispo de ter contribuído para a detenção, em 1976, pelas Forças Armadas, de dois sacerdotes que trabalhavam sob seu comando na Companhia de Jesus, Francisco Jalics e Orlando Yorio. A história foi registrada no livro "El Silencio".
A acusação não é inédita. Rumores sobre uma suposta colaboração de Bergoglio com a ditadura já havia sido ventilada na Argentina por críticos do perfil conservador do cardeal. É a primeira vez, no entanto, que se publicava um registro oficial da atuação de Bergoglio no episódio.
Verbitsky obteve nos arquivos do Ministério das Relações Exteriores e Culto da Argentina um documento de 1979 em que o então diretor de Culto Católico do órgão, Anselmo Orcoyen, afirma ter sido informado por Bergoglio das "suspeitas de contato com guerrilheiros" e dos "conflitos de obediência" envolvendo o sacerdote de origem húngara Jalics.
Bergoglio teria feito esses comentários oralmente ao entregar por escrito um pedido para renovação do passaporte argentino de Jalics, que, assim como Yorio, foi libertado em 1976. O pedido de renovação do passaporte foi negado com base nos antecedentes do religioso informados verbalmente. Verbitsky narrou esses fatos num capítulo do livro chamado de "As Duas Faces do Cardeal". Bergoglio aceitou falar com o escritor durante a preparação do livro. O cardeal negou que tenha colaborado com a ditadura e disse que, ao contrário, agira para tentar salvar os sacerdotes enquanto estavam presos na Esma, a Escola de Mecânica da Armada, local de extermínio do regime militar.
A trajetória de Bergoglio
17.dez.1936
Nasce Jorge Mario Bergoglio na cidade de Buenos Aires; descendente de italianos, é filho de um ferroviário e uma dona de casa
1957
Após completar o ensino básico na escola técnica industrial Hipólito Yrigoyen, na capital argentina, instituição em que foi diplomado químico, decide iniciar os estudos para se converter em sacerdote católico e, aos 21 anos, entra para a Companhia de Jesus
1963
Após um breve período de estudos no Chile, volta à Argentina para lecionar literatura e psicologia em colégios católicos; inicia os estudos de teologia
1969
Ordenado padre jesuíta; pouco tempo depois, sofreu com problemas respiratórios e perdeu um pulmão depois de uma cirurgia
1976
Como o jesuíta responsável pela província de Buenos Aires entre 1973 e 1979, Bergoglio é acusado de colaborar com a ditadura militar argentina a partir de 1976 - as acusações contra o sacerdote são feitas já no período democrático, em investigações sobre os crimes cometidos no período de exceção. Segundo o jornalista argentino Horacio Verbitsky, que publicou livro sobre a ditadura, Bergoglio foi acusado por ao menos três pessoas de ser o delator de outros dois padres jesuítas, ligados à Teologia da Libertação, e de um médico também ligado ao movimento; em 2005, já como cardeal, ele nega todas as acusações; na época, lutou para manter a unidade da Companhia de Jesus sob a bandeira de não politizá-la
Anos 1980
Entre 1980 e 1986, é reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel, onde havia feito licenciatura em filosofia; sua tese de doutorado é desenvolvida na Alemanha; na volta, retoma a atividade pastoral em Mendoza e Córdoba
1992
Após mais de duas décadas de atuação como padre jesuíta, e também como professor de teologia, é nomeado e ordenado bispo da diocese de Auca, exercendo a função de bispo auxiliar de Buenos Aires; sempre avesso a exposições na mídia, nas viagens a Roma, que se tornariam cada vez mais frequentes, opta pela discrição: é frequentemente visto com sobretudo preto por cima da vestimenta típica de cardeal
1998
Nomeado arcebispo metropolitano de Buenos Aires, região que abriga cerca de 400 sacerdotes, 200 paróquias e aproximadamente 3,5 milhões de fiéis; em seu primeiro ato à frente da arquidiocese, cria um tipo de ministério da educação para abrigar todas as escolas católicas da região - que na época reunia um número maior de alunos do que o governo de Buenos Aires
2001
Durante o consistório de fevereiro, é nomeado cardeal pelo papa João Paulo 2; em vez de pedir uma roupa nova de cardeal, o que é mais comum depois de uma nomeação, pede para consertar a vestimenta de seu antecessor argentino, cardeal Antonio Quarracino, morto em 1998
2002
No auge da crise econômica da Argentina, Bergoglio diz para os argentinos pararem de "rezar'' para o FMI (Fundo Monetário Internacional). "Não vamos a lugar nenhum [com a ajuda externa], simplesmente nos endividaríamos ainda mais''
2005
De 2005 a 2011, durante dois períodos, o máximo permitido, preside a Conferencia Episcopal Argentina, topo da hierarquia católica no país (equivalente à presidente da CNBB no Brasil); após a morte de João Paulo 2, Jorge Bergoglio passa a ser um dos mais cotados para se tornar papa, mas o conclave de 2007 elege o cardeal alemão Joseph Ratzinger para o posto - o argentino teria obtido 40 votos e ficado em segundo
2010
Durante a tramitação do projeto que autorizou a realização do casamento gay na Argentina, Bergoglio se posicionou contra e disse tratar-se não de "um mero projeto legislativo, e sim uma jogada do Pai da Mentira para confundir e enganar os filhos de Deus''
Setembro de 2012
Após a corte suprema da Argentina autorizar a interrupção da gravidez de uma mulher vítima de estupro, o cardeal Bergoglio lamenta a decisão e discursa contra o aborto
13.março.2013
É eleito papa no segundo dia do conclave, que reuniu 115 cardeais, e escolhe o nome de Francisco
Frase
"Na nossa realidade cotidiana, mantém-se a distribuição injusta da riqueza, continuando a tendência de concentração nos níveis de maior poder e riqueza''
Carta do cardeal Jorge Bergoglio, escrita em outubro de 2005 com críticas ao governo argentino.
Nasce Jorge Mario Bergoglio na cidade de Buenos Aires; descendente de italianos, é filho de um ferroviário e uma dona de casa
1957
Após completar o ensino básico na escola técnica industrial Hipólito Yrigoyen, na capital argentina, instituição em que foi diplomado químico, decide iniciar os estudos para se converter em sacerdote católico e, aos 21 anos, entra para a Companhia de Jesus
1963
Após um breve período de estudos no Chile, volta à Argentina para lecionar literatura e psicologia em colégios católicos; inicia os estudos de teologia
1969
Ordenado padre jesuíta; pouco tempo depois, sofreu com problemas respiratórios e perdeu um pulmão depois de uma cirurgia
1976
Como o jesuíta responsável pela província de Buenos Aires entre 1973 e 1979, Bergoglio é acusado de colaborar com a ditadura militar argentina a partir de 1976 - as acusações contra o sacerdote são feitas já no período democrático, em investigações sobre os crimes cometidos no período de exceção. Segundo o jornalista argentino Horacio Verbitsky, que publicou livro sobre a ditadura, Bergoglio foi acusado por ao menos três pessoas de ser o delator de outros dois padres jesuítas, ligados à Teologia da Libertação, e de um médico também ligado ao movimento; em 2005, já como cardeal, ele nega todas as acusações; na época, lutou para manter a unidade da Companhia de Jesus sob a bandeira de não politizá-la
Anos 1980
Entre 1980 e 1986, é reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel, onde havia feito licenciatura em filosofia; sua tese de doutorado é desenvolvida na Alemanha; na volta, retoma a atividade pastoral em Mendoza e Córdoba
1992
Após mais de duas décadas de atuação como padre jesuíta, e também como professor de teologia, é nomeado e ordenado bispo da diocese de Auca, exercendo a função de bispo auxiliar de Buenos Aires; sempre avesso a exposições na mídia, nas viagens a Roma, que se tornariam cada vez mais frequentes, opta pela discrição: é frequentemente visto com sobretudo preto por cima da vestimenta típica de cardeal
1998
Nomeado arcebispo metropolitano de Buenos Aires, região que abriga cerca de 400 sacerdotes, 200 paróquias e aproximadamente 3,5 milhões de fiéis; em seu primeiro ato à frente da arquidiocese, cria um tipo de ministério da educação para abrigar todas as escolas católicas da região - que na época reunia um número maior de alunos do que o governo de Buenos Aires
2001
Durante o consistório de fevereiro, é nomeado cardeal pelo papa João Paulo 2; em vez de pedir uma roupa nova de cardeal, o que é mais comum depois de uma nomeação, pede para consertar a vestimenta de seu antecessor argentino, cardeal Antonio Quarracino, morto em 1998
2002
No auge da crise econômica da Argentina, Bergoglio diz para os argentinos pararem de "rezar'' para o FMI (Fundo Monetário Internacional). "Não vamos a lugar nenhum [com a ajuda externa], simplesmente nos endividaríamos ainda mais''
2005
De 2005 a 2011, durante dois períodos, o máximo permitido, preside a Conferencia Episcopal Argentina, topo da hierarquia católica no país (equivalente à presidente da CNBB no Brasil); após a morte de João Paulo 2, Jorge Bergoglio passa a ser um dos mais cotados para se tornar papa, mas o conclave de 2007 elege o cardeal alemão Joseph Ratzinger para o posto - o argentino teria obtido 40 votos e ficado em segundo
2010
Durante a tramitação do projeto que autorizou a realização do casamento gay na Argentina, Bergoglio se posicionou contra e disse tratar-se não de "um mero projeto legislativo, e sim uma jogada do Pai da Mentira para confundir e enganar os filhos de Deus''
Setembro de 2012
Após a corte suprema da Argentina autorizar a interrupção da gravidez de uma mulher vítima de estupro, o cardeal Bergoglio lamenta a decisão e discursa contra o aborto
13.março.2013
É eleito papa no segundo dia do conclave, que reuniu 115 cardeais, e escolhe o nome de Francisco
Frase
"Na nossa realidade cotidiana, mantém-se a distribuição injusta da riqueza, continuando a tendência de concentração nos níveis de maior poder e riqueza''
Carta do cardeal Jorge Bergoglio, escrita em outubro de 2005 com críticas ao governo argentino.
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