Ministério Público pede 1ª apuração formal após depoimento de Valério, que acusou petista de negociar com Portugal Telecom repasse ilegal ao PT
A Procuradoria da República no Distrito Federal pediu na
sexta-feira, 5, à Polícia Federal a abertura de um inquérito para apurar a
acusação do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza segundo a qual o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negociou, no início de seu mandato,
repasses ilegais para o PT com Miguel Horta, então presidente da Portugal
Telecom.
Trata-se do primeiro inquérito aberto formalmente para
investigar o conteúdo do depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República
em 24 de setembro de 2012 por Valério, condenado a mais de 40 anos de prisão
por operar o mensalão. O conteúdo do depoimento, no qual o empresário afirma,
entre outras coisas, que Lula sabia do mensalão e teve despesas pessoais pagas
com dinheiro do esquema, foi revelado peloEstado em dezembro.
A Procuradoria do Distrito Federal já havia instaurado seis
procedimentos preliminares para analisar as acusações feitas por Valério no
depoimento. A abertura de inquérito é o passo seguinte à análise prévia dessas
acusações.
No caso da Portugal Telecom, Valério disse que Lula e o
então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, reuniram-se com Horta no Palácio
Planalto e combinaram que uma fornecedora da empresa em Macau, na China,
transferiria R$ 7 milhões para o PT.
O dinheiro, ainda segundo Valério, chegou ao Brasil por meio
de contas bancárias de publicitários que prestaram serviços para campanhas
eleitorais petistas.
As negociações com a Portugal Telecom estariam por trás da
viagem feita em 2005 a Portugal por Valério, seu ex-advogado Rogério Tolentino
e o ex-secretário do PTB Emerson Palmieri. Segundo o presidente do PTB, Roberto
Jefferson, o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, havia incumbido Valério
de ir a Portugal para negociar a doação de recursos da Portugal Telecom para o
PT e o PTB. Essa missão e os depoimentos de Jefferson e Palmieri foram usados à
exaustão ao longo do julgamento do mensalão para mostrar o envolvimento de
Dirceu no esquema.
O dinheiro, segundo as acusações de Valério, foi usado para
pagar dívidas com a dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano, que se
apresentava em comícios petistas, além do publicitário Nizan Guanaes, que
realizou a campanha do petista Jorge Bittar à Prefeitura do Rio em 2004. As
operações teriam ocorrido em 2005.
O publicitário e a dupla negam ter recebido pagamentos
ilegais.
O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, informou que
o ex-presidente não vai comentar a abertura do inquérito pela procuradoria do
Distrito Federal. Em outra ocasião, Lula classificou o depoimento de Valério de
“mentiroso”. Miguel Horta nega ter tratado de repasses ilegais com integrantes
do governo.
Benefícios. Após ser condenado pelo Supremo como o operador
do mensalão, Valério procurou voluntariamente a Procuradoria-Geral da
República. Buscava com isso obter proteção e possíveis benefícios, como redução
de sua pena de 40 anos, 2 meses e 10 dias de prisão pelos crimes de corrupção
ativa, peculato, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de
quadrilha.
Todas as acusações feitas por Valério ocuparam apenas 13
páginas. Em alguns momentos, ele foi quase telegráfico. O empresário deverá ser
chamado a esclarecer as acusações e a dar mais elementos sobre o que disse.
Da redação do S1 Notícias
Com informações de Alana Rizzo/Felipe/Estadão


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