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Mais de 1.300 pessoas podem ter sido mortas por ataque químico
Foto: AFP
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A oposição síria acusou a comunidade internacional de ser
cúmplice do ataque com armas químicas praticado pelo regime sírio na periferia
de Damasco, por seu silêncio, depois da suposta morte de mais de 1.300 pessoas.
O ataque provocou uma onda de condenações internacionais. O
regime de Damasco e o Exército negaram categoricamente o uso de armas químicas
nessa região.
O Conselho de Segurança da ONU iniciou nesta quarta-feira (21 de agosto de 2013), consultas a portas fechadas, a pedido de cinco membros (França, Estados Unidos,
Reino Unido, Luxemburgo e Coreia do Sul).
Vários países, assim como a Liga Árabe, pediram que os
especialistas das Nações Unidas, que chegaram no domingo à Síria para
investigar o eventual uso dessas armas no conflito, visitem imediatamente os
locais do suposto massacre.
Segundo as fontes da oposição, centenas de pessoas morreram
por terem inalado gás e ficado expostas às armas químicas.
Em vídeos postados no YouTube é possível ver crianças
recebendo os primeiros socorros em um hospital de campanha, principalmente
oxigênio para ajudá-las a respirar. Médicos aparecem tentando ressuscitar
crianças inconscientes que não mostram ferimentos visíveis.
A autenticidade dos vídeos não pôde ser comprovada até o
momento.
Os Comitês de Coordenação Local (LCC), uma rede de
militantes, também informaram a respeito de centenas de vítimas devido ao
"uso brutal de gases tóxicos pelo regime criminoso em partes de Ghouta
Ocidental".
As autoridades negaram as acusações.
"As informações sobre o uso de armas químicas em Ghouta
são totalmente falsas", assegurou a agência estatal Sana, num momento em
que uma missão de inspetores da ONU visita o país exatamente para investigar o
uso de armas químicas.
Contudo, o acordo entre Damasco e a ONU limita a missão de
inspetores a Khan al-Assal (perto de Aleppo), Ataybé, perto de Damasco, e em
Homs, no centro da Síria.
A União Europeia exigiu uma investigação "imediata e
aprofundada", segundo um porta-voz da chefe da diplomacia da UE, Catherine
Ashton.
A Rússia, um dos maiores aliados do regime de Bashar
al-Assad, por sua vez, considerou nesta quarta-feira que a denúncia de
utilização de armas químicas por parte das autoridades sírias é uma provocação.
"Tudo isso nos faz pensar que estamos de novo diante de
uma provocação planejada de antemão", indicou o ministério russo das
Relações Exteriores em um comunicado.
A agência de notícias Sana descreveu as ações do Exército
nesta quarta como "operações contra grupos terroristas", nas quais
morreram "vários deles".
Mas o chefe da oposição síria exigiu uma reunião de
emergência do Conselho de Segurança da ONU sobre o "massacre".
"Peço ao Conselho de Segurança da ONU que realize uma
reunião urgente para assumir suas responsabilidades ante esta matança",
afirmou Ahmad Jarba ao canal Al-Arabiya.
Outro líder opositor, George Sabra, indicou à imprensa o
número de 1.300 mortos em várias localidades nos arredores de Damasco, considerando
que o massacre torna impossível qualquer solução política.
"O que nos mata e mata nossas crianças não é apenas o
regime. A indecisão americana nos mata. O silêncio de nossos amigos nos mata. O
abandono da comunidade internacional nos mata, a indiferença dos árabes e
muçulmanos, a hipocrisia do mundo que se acredita livre nos mata",
declarou em uma coletiva de imprensa em Istambul.
"O regime tripudia da ONU e das grandes potências
quando ataca perto de Damasco com armas químicas, no momento em que a comissão
de investigação internacional se encontra a poucos passos de distância",
acrescentou.
"Onde está a comunidade internacional. Onde está a
honra?", insistiu, falando dos 1.300 mortos no ataque desta quarta-feira.
"Todo discurso sobre a conferência de Genebra 2 e as
propostas políticas são nulas com o prosseguimento desses massacres. O que tem
acontecido destroi qualquer esforço político pacífico e torna absurdo todo
discurso a este respeito", acrescentou.
Sabra fez referência à conferência de paz internacional
sobre a Síria - Genebra 2 - planejada por Moscou e Washington, mas cuja
organização se arrasta há meses.
Representantes da Rússia e dos Estados Unidos devem se
reunir novamente na próxima semana para prepará-la.
O diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, Rami
Abdel Rahman, que não confirmou o uso de armas químicas, indicou pelo menos 136
mortos, afirmando que esse número pode aumentar devido à violência do
bombardeio, que foi mantido durante todo o dia
A operação se concentrou em Mouadamiya al-Cham, a sudoeste
da capital, que o Exército tenta retomar, indicou o OSDH, que se baseia em uma
ampla rede de militantes e de fontes médicas.
Vários especialistas consultados pela AFP se mostraram
prudentes. Paula Vanninen, diretora da Verifin, um instituto finlandês para a
verificação da convenção de armas químicas, declarou que "não está
totalmente convencida" de que se trata de um ataque com gases nervosos.
"As pessoas que ajudam as vítimas não usam roupas de
proteção nem máscaras e, se fosse o caso, elas teriam sido contaminadas e
teriam os mesmos sintomas", disse ela, a respeito do vídeo.
Para Gwyn Winfield, diretor da revista CBRNe Wold,
especializada em armas químicas, "não existe informação alguma indicando
que médicos ou enfermeiros morreram, o que leva a crer que não é o que se
considera como gás sarin militar, mas pode ser um gás sarin diluído."
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