Dona Josimá fez um relato de um estupro sofrido pela sua filha
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Foto: Farol de Notícias |
Nesta terça-feira (15), a redação do Farol de Notícias recebeu
a costureira Josimá Antunes da Silva, 57 anos, residente no bairro do Ipsep em
Serra Talhada - PE. Ela fez um relato chocante que atesta a ineficiência do
estado diante de crimes hediondos, especialmente, contra crianças em Serra
Talhada.
O relato que vocês lerão agora foi dado sempre sob a escolta
de lágrimas de revolta, que - por vez ou outra – teimavam em se mostrar, e
evidencia a triste realidade de uma mãe que abre o coração manchado pela dor de
ter uma menor violentada e perseguida pelo manto da impunidade no
município.
Dona Josimá fez um relato de um estupro sofrido pela sua
filha M. C. de apenas 7 anos. O fato aconteceu há dois meses e foi praticado
por um vizinho que atua como pregador numa igreja evangélica em Serra Talhada.
A família denunciou ao Conselho Tutelar e à polícia, mas nada foi feito até
agora.
Por enquanto, de concreto, só resta o trauma para uma
criança que continua apavorada, com reflexos negativos na escola e com medo do
retorno do ‘monstro’ que voltou a passear pelas ruas do seu bairro.
O blog afirma que vai levar dona Josemá para ter
uma conversa com um advogado, nesta quarta-feira (16). Ela teme pela sua vida e
da filha. Por enquanto, por precaução, iremos manter o nome do acusado em
sigilo, mas à disposição da Justiça.
Confira a entrevista de dona Josemá Antunes, costureira:
FAROL – Dona Josemá, o que levou a senhora a nos
procurar para denunciar o que aconteceu com sua filha de 7 anos?
Dona Josimá – O que me levou foi um sentimento de
revolta. Meu objetivo é tornar público para cada cidadão de Serra Talhada o que
aconteceu com minha filha. Pois eu já fui ao Conselho Tutelar, e o Conselho não
fez nada. Sequer foi na minha casa; então, eu preciso de um advogado e não
tenho condições de pagar. E eu sei que um defensor público poderia me ajudar,
mas será demorado. Quem abusou sexualmente de minha filha tem mais condições do
que eu; e pode contratar um advogado. A minha filha só tem sete anos. Essa
pessoa abusou da minha filha, e simplesmente achou que nunca ia ser punido como
até agora não foi, ele está foragido, até onde eu sei. Ele abusou sexualmente
de minha filha e deixou bastante machucada. Essa pessoa, que é pregadora da
minha igreja e está se escondendo atrás da bíblia, machucou a minha filha
várias vezes; e eu achei que as irritações fossem alguma alergia. Ele abusou
dela mais de uma vez; faz quase um ano que vinha acontecendo isso. Ele deu uma
bicicleta a ela, para a menina não me contar. É uma criança, uma inocente! Não
podia entender ao certo o que acontecia. Ela achou que perderia a bicicleta se
me contasse. Mas, há cerca de dois meses, minha filha me contou tudo e agora
tenho medo até pela segurança dela.
FAROL – Como a senhora o conheceu?
Dona Josimá - Eu morava numa casa dele, de aluguel, que
ele mesmo me ofereceu. A esposa dessa pessoa é sogra de outra filha minha; na
época foi espontâneo, ele me chamou para morar na casa dele, o aluguel era R$150 um aluguel que eu poderia pagar. Só que, para mim, o barato saiu muito
caro! Esse aluguel nunca aumentou, mas minha filha pagava uma conta altíssima.
Ela me contou que ele dizia que, se ela falasse alguma coisa, ele me colocaria
na rua, me tirando do aluguel. E ela só me contou há pouco tempo, uma menina de
sete anos suportou esses abusos por quase um ano. Ela ficou calada, mas tinha
pesadelos; eu passava a noite acordada, com ela tendo pesadelos. Ele
freqüentava a mesma igreja que eu, éramos da mesma congregação. Ele pregava na
igreja que eu participava.
FAROL – Como a senhora percebeu que sua filha estava
sendo violentada?
Dona Josimá - Ele roubou a inocência da minha
filha! Eu a vi chorar várias vezes, pensei que fosse uma alergia. Ele mesmo
dizia que era uma alergia. A ex-esposa dele está aí viva e sã para dizer; uma
vez ela ouviu minha filha gritar “não” no sofá. Ela foi ver o que era,
perguntou ‘o que é isso?’ e quando chegou lá, ele disse que tinha batido com o
dedo na axila da menina. Só que eu cheguei do hospital, estava lá com irmão que
estava doente, e olhei a axila dela, tinha uma marca roxa. Fui dar um banho
nela, para ver se ela se acalmava, mas ela não me deixava dar banho nela. Ela
ficou apavorada quando fui tirar a roupa dela, a roupa íntima, ela não deixou
tirar. Num outro dia ela chegou chorando à noite, e a esposa dele disse: Dona
Josina, a M. C. está chorando e dizendo que está sentindo dor’. Eu perguntei o
que a menina estava sentindo, ela me respondeu que estava sentindo dor na parte
íntima. Perguntei se tinha acontecido alguma coisa, ela disse que não. Pedi
para ver e ela se apavorou. Mas, ainda assim, deitei ela na cama e vi; a área
estava muito roxa. Perguntei o que tinha sido, ela disse que tinha caído, não
que alguém a tinha tocado; e continuou a chorar. Eu não tinha como sequer
imaginar que o que tinha sido, ainda mais que ele tinha feito aquilo com minha filha.
Como ela sentia dor de vez em quando; levei ela ao médico. A enfermeira, quando
examinou, pediu para a menina sair da sala e falou comigo: ‘Dona Josemá, sua
filha está sendo abusada sexualmente’. Aí não tive mais receio nem dúvidas nem
calma. Fui o mais rápido que pude para a delegacia e dei parte.
FAROL – Então a senhora confiava nele… Esse senhor
fazia parte do seu convívio diário…
Dona Josimá - Minha filha sempre ficava na casa
dele quando eu precisa sair para resolver algo, era pertinho da minha casa. Ele
pegava a menina na escola; eu confiava nele. Precisei muito de ajuda quando meu
irmão adoeceu, inclusive acabou falecendo, por isso confiei minha filha a ele.
Este monstro era um irmão da igreja que eu frequentava; nunca imaginei que ele
faria isso. Ele dizia para todo mundo que a M.C. era uma filha para ele.
FAROL – A senhora está em busca de um advogado…
Dona Josimá - Antes de dar essa entrevista, fui
primeiramente ao promotor; eu queria realmente dizer o que fiquei sabendo, o
que minha filha me contou. Estou implorando a um advogado que tenha um bom
coração e que queira, tenha disponibilidade e boa vontade para ajudar minha
filha. Tenham misericórdia e ajudem minha filha! É uma mãe que está implorando.
A prisão preventiva desse monstro já foi decretada, mas ele não está preso. O
nome da minha filha na rua, em todo lugar dizendo que ela é mentirosa, que nós
somos mentirosos. Eu seria incapaz de colocar o nome da minha filha que eu
tanto amo em algo tão tenebroso assim. Quando eu soube dessa notícia, eu quase
morri! (choro).
FAROL – A senhora teme pela segurança da sua filha de 7
anos. Que até agora a polícia e nem o Conselho Tutelar fizeram algo de concreto
para garantir a segurança dela. Ela é a única pessoa de fato que pode comprovar
tudo isso?
Dona Josimá - Eu só soube disso porque ela brincou com
uma coleguinha da forma (obscena) que ela achava que ele brincava com ela.
Quando ela fez isso com a minha neta, minha outra filha viu e perguntou ‘Onde
você viu essa brincadeira? Quem te mostrou isso? Homem ou mulher brincou com
você assim?’, e M.C. respondeu: ‘o vizinho era quem brincava comigo assim’.
Quando ela disse isso, a minha filha me chamou no quarto e me contou, foi aí
que comecei a ligar uma coisa à outra; porque ela chegava em casa chorando,
machucada… Ele a mandava dizer que foi uma queda, ou alergia à sabonete. Ela
sempre vinha de banho tomado da casa dele.
FAROL – Ele ameaçava ela?
Dona Josimá - Ameaçava dizendo que, se ela me contasse,
ele seria preso e a culpa seria dela, de uma inocente de 7 anos que ele
machucou! Ela finalmente me disse tudo o que ele fez, mas me pediu pelo amor de
Deus, que não contasse à polícia, porque ele seria preso e a culpada seria ela;
‘Eu não quero ser culpada pela prisão dele!’ Todos os vizinhos viam que ele a
pegava na escola, que ela passava o dia na casa dele, a família dele gostava
muito da minha filha. Mas, hoje, não sei mais como estão.
FAROL – A senhora disse que ele é pregador numa igreja
evangélica de Serra Talhada. Como foi a reação dos fiéis quando senhora
denunciou publicamente esse fato?
Dona Josimá – Era a igreja que eu congregava… Eu
esperava da igreja que pelo menos tivesse uma atitude cristã com a minha filha,
mas não. Uma pessoa que congregava comigo lá me disse que alguns irão depor a
favor dele (do pedófilo). Minha outra filha ouviu isso. E sabe o que ela disse?
‘Depois de tudo o que ele fez comigo, ainda vão defender ele, mãe? Vão defender
ele? A senhora me disse que Deus estava comigo, que ia me ajudar, mas isso não
tá acontecendo!’. Eu respondi a ela que, enquanto tivesse vida, ia lutar por
justiça pela minha filha! E agradeço muito pela oportunidade que o FAROL está
me dando em divulgar e se dispor a me ajudar.
FAROL – A senhora disse que ficou sabendo disso há dois
meses. Uma série de abusos que já vinham acontecendo há cerca de um ano. Por
que não procurou a imprensa antes?
Dona Josimá - Eu não vim antes porque não
sabia onde era a redação de vocês, e ninguém tinha coragem de me dizer. Até que
por intermédio de uma pessoa muito corajosa e de bom coração, eu soube onde
Giovanni Sá trabalhava, e fui atrás dele, porque desde o dia em que eu soube,
quis tornar público, para saberem o que aconteceu com minha filha e não
permitir que ele machuque mais nenhuma criança! Se eu esconder, com quantas
outras crianças ele não faria isso? Eu posso me expor, e de certa forma expor
minha filha, mas todo mundo vai saber o que ele é verdade e do que ele fez com
uma inocente de 7 anos. Faço isso porque sou mãe e só eu e Deus sabemos o
quanto sofro. Não desejo essa dor nem para ele! Quero que Serra Talhada inteira
saiba que minha filha é uma vítima, minha filha é uma inocente que ele abusou.
Cada pai e cada mãe dessa cidade que tem um filho ou uma filha de 7 anos, se
ponha em meu lugar e imagine o meu sofrimento. As barbaridades que ele fazia
com ela e que M.C. me contou, que eu só contarei o que eram depois de falar com
o promotor, é de matar qualquer mãe. Eu quero acreditar na justiça.
FAROL – Como sua filha está agora?
Dona Josimá - Sendo acompanhada por um psicólogo.
Sou eu que não durmo com ela tendo pesadelos. Sou eu que não vejo minha filha
comer porque tem nojo da comida. Eu vi minha filha ontem apavorada, dizendo que
eu mostrei para ela um Deus que não existia, um Deus que permitiu que ela fosse
machucada daquele jeito. Agora não sei explicar a ela que Deus é esse e porque
isso aconteceu com ela. Na escola o comportamento dela não vai bem. A professora
já me reclamou algumas vezes, já me chamou para conversar. Ao tomar
conhecimento dos horrores que ele fazia com minha filha, expliquei a professora
e ela entendeu perfeitamente o que acontecia, que o comportamento dela tava
relacionado com o que ela sofria. O sorriso da minha filha agora é triste, um
sorriso sem o brilho de um sorriso infantil.
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