Salvador deu mais um passo em direção à igualdade religiosa, com o lançamento do novo estatuto social para religiões de matriz africana.
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“Foi preciso cuidado. Há uma diversidade enorme dentro das organizações de matriz africana” – Reprodução |
As regras, que já estão em vigor, foram construídas a partir
das demandas diagnosticadas pela Secretaria Municipal da Reparação (Semur),
tendo à frente a secretária Ivete Alves do Sacramento.
“A secretária identificou, ao olhar o Diário Oficial, que só
havia registros de imunidade fiscal para outras religiões. Centros espíritas,
igrejas evangélicas, católicas tinham. Mas não se via o nome de nenhum
terreiro”, afirma Leomar Borges dos Santos, assessor da Semur e coordenador de
Articulação e Projetos Especiais da Diversidade.
Foram cerca de quatro anos de audiências e reuniões entre
órgãos privados e públicos para se chegar à conclusão do estatuto.
“Foi preciso cuidado. Há uma diversidade enorme dentro das
organizações de matriz africana. Encontrar uma unidade não é fácil”, afirma
Eurico Alcântara dos Santos, presidente do Conselho Municipal das Comunidades
Negras (CMCN).
Mudanças
Dentre as questões tratadas pelo estatuto, está o
reconhecimento do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) e a isenção
fiscal, assim como questões fundiárias relativas aos terreiros.
“Sobre o CNPJ, é preciso entender as dificuldades impostas
pelo racismo estrutural que existe em relação a organizações religiosas
afro-brasileiras. Foi preciso observar o fato de as pessoas de comunidades de
terreiro não poderem ter o seu próprio CNPJ e serem obrigadas a abrir uma
associação para representá-las”, diz Leomar.
A hereditariedade da posse dos templos também sofre
mudanças.
“Ao longo do tempo, notamos que muitos descendentes deixaram de fazer
parte daquela religião e passaram a seguir outras. Quando quem cuidava do lugar
morria, a organização ficava sem continuidade. Com o CNPJ, os líderes vão
colocar o terreno no nome da instituição, para garantir a sua manutenção.
Afinal, quando um arcebispo morre, ninguém vende a igreja”, completa o
assessor.
Diante dessa conquista, o presidente da CMCN comemora.
“Nós
não precisamos mais nos esconder atrás de uma associação com o nome de São
Jorge, São Bartolomeu, Santo Antônio, Nossa Senhora, ainda que sendo um
terreiro de candomblé. Precisamos assumir a nossa identidade”, reitera Eurico.
“Ofereço essa vitória à nossa ancestralidade. Porque foi por
conta desses, que lutaram antes de nós, que hoje podemos ter esse estatuto”,
conclui.
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