Plano prevê centros de inteligência da polícia nas capitais, forças-tarefa do Ministério Público para investigar homicídios e combate ao tráfico nas fronteiras.
Moraes afirmou que o plano foi elaborado pela área de segurança do governo – Reprodução |
Em meio à crise no sistema prisional do país, o governo
federal lançou nesta sexta-feira (6), em cerimônia no Palácio do Planalto, um
plano nacional de segurança com medidas para combater o crime no país. Entre as
ações previstas no plano e apresentadas pelo ministro da Justiça, Alexandre de
Moraes, estão a implantação de centros de inteligência integrados das polícias
nas capitais, a criação de forças-tarefa no Ministério Público para
investigações de homicídios e o fortalecimento do combate ao tráfico de armas e
drogas nas fronteiras.
Moraes afirmou que o plano foi elaborado pela área de
segurança do governo ao longo dos últimos sete meses. O anúncio, no entanto,
coincidiu com uma semana em que houve dois massacres durante rebeliões em
presídios na região Norte do país. O primeiro deles, na madrugada do domingo
(1º) para segunda-feira (2), ocorreu no presídio Anísio Jobim, em Manaus, e
vitimou 56 presos. O segundo foi registrado na madrugada desta sexta, no
presídio agrícola de Monte Cristo, o maior de Roraima. Ao menos 32 mortes foram
confirmadas.
Segundo o ministro da Justiça, o plano nacional de segurança
vai ter três pontos prioritários: a redução dos crimes de homicídio,
feminicídio e violência contra a mulher; o combate ao crime organizado, com
foco no tráfico de drogas e de armas; e a modernização e racionalização de
presídios.
Ele disse ainda que todo o plano está contemplado com
recursos do Orçamento. Outras ações, que não têm verba no Orçamento,
"ficam para depois", segundo Moraes. Ele afirmou que o plano será
"realista".
Veja ações anunciadas pelo governo no plano nacional de
segurança:
Forças-tarefa do Ministério Público no combate a homicídios
O ministro da Justiça disse que o plano de combate a
homicídios e à violência contra a mulher se divide em quatro eixos: prevenção,
operação/investigações, inteligência, e integração entre Ministério Público e
Judiciário.
Na prevenção, o governo vai investir na capacitação
policial, principalmente para aprimorar a abordagem dos agentes e estreitar a
aproximação da corporação com a sociedade. Moraes considerou "muito
importante" a interação entre promotores e juízes.
"Segurança pública não é só questão de polícia. É uma
questão social, mas mesmo na persecução penal, é uma questão de integração do
MP com o Poder Judiciário. A proximidade gera combate muito mais eficaz",
disse.
A ideia do governo, nesse ponto, é convencer tribunais e
promotorias a priorizar os processos criminais relativos a homicídios e
feminicídios, com medidas administrativas, como cessão de mais funcionários,
informatização das varas e criação de departamentos específicos.
Moraes disse que já conversou com membros do MP sobre o
assunto, e propôs a criação de "forças-tarefa" para atuar nos casos.
A ideia é separar procuradores que já atuam em tribunais de júri para
acompanhar mais de perto os processos relacionados a homicídios.
"Já há uma predisposição, no caso do MP, todos os
procuradores concordaram. São medidas simples, mas com efeito absurdamente
bom", disse.
As investigações serão focadas, segundo Moraes, nas regiões
limítrofes entre as capitais e municípios em redor, nas regiões metropolitanas.
Segundo ele, esses lugares somam 209 municípios, que, junto às capitais,
concentram 54% dos homicídios do país.
"Nesses municípios, é que nossa inteligência vai atuar.
Já começou em relação as capitais e em seguir para os outros municípios",
afirmou o ministro, acrescentando que o governo já levantou dados sobre mortes
nas capitais.
Centros de inteligência
O plano nacional de segurança elaborado pelo governo federal
prevê a instalação de centros de inteligência que reunirá forças policiais e de
investigação nos 26 estados e no Distrito Federal, de acordo com o ministro da
Justiça.
"Vamos implantar um núcleo de inteligência policial nos
26 estados e no Distrito Federal com a participação conjunta da Polícia
Rodoviária Federal, das polícias dos estados, civil e militar, e também da Abin
e agentes penitenciários, para que haja troca de informações constantes",
afirmou o ministro.
'Patrulha Maria da Penha'
O ministro anunciou a instalação de grupos da “Patrulha
Maria da Penha”, que deverão fazer visitas periódicas a mulheres em situação de
violência doméstica, e a promoção de cursos de capacitação profissional. Um dos
objetivos é combater a chamada “retirada” da queixa da vítima contra o agressor
por medo e falta de meios de se manter.
Moraes disse que haverá ainda uma análise junto aos
Ministérios Públicos estaduais para a viabilidade da criação de “Grupos de
Atuação Especial” para homicídios dolosos e feminicídios. Eles seriam
compostos, entre outros, por promotores de Justiça com atuação nos tribunais do
Júri.
Valorização da prevenção
O combate aos homicídios dolosos, feminicídios e à violência
contra a mulher, segundo o ministro, valorizará a prevenção por meio da
capacitação dos agentes envolvidos, a aproximação da polícia com a sociedade, a
“inserção e proteção social”, além da otimização de medidas administrativas.
Quanto às medidas administrativas, o ministro da Justiça
anunciou a criação de um “fluxo de comunicação” entre os órgãos de segurança e
municipais com presença nos centros de inteligência. Outras linhas de ação
serão verificar lugares com iluminação ruim, verificar veículos abandonados,
fiscalizar estabelecimentos irregulares e a venda indiscriminada de bebida
alcóolica para combater “brigas de bar”, disse o ministro.
O plano também prevê implementar normas mais rígidas na
guarda e no depósito de armas de fogo de empresas de segurança privadas.
Mapeamento de homicídios
O ministro anunciou um mapeamento dos homicídios, que
começará pelas capitais e depois será expandido para as regiões metropolitanas.
O mapeamento tomará como base o censo de 2014 e será analisado pela União com
os estados.
“Vamos começar por Natal, Porto Alegre e Aracajú. Os dois
primeiros porque as preocupações são anteriores à esta semana. Já Sergipe é o
estado que teve a taxa mais alta de homicídios proporcionalmente”, afirmou
Moraes.
De acordo com o ministro, enquanto não houver possiblidade
de se instalar câmeras de segurança (que necessitam de licitação) nos locais de
maiores ocorrências de homicídios e violência contra a mulher, o monitoramento será
feito por unidades móveis ônibus com câmeras e computadores interligados ao
centro de inteligência.
Presos provisórios
Segundo o ministro da Justiça, a racionalização do sistema
penitenciário, um dos três principais objetivos do plano, passará pela
separação dos presos condenados por crimes graves e do crime organizado em
diferentes alas; a proporcionalidade na progressão do regime com mais
benefícios aos crimes praticados sem violência e a necessidade de cumprimento
de pelo menos metade da pena no caso de ameaças graves; além de um mutirão em execução
da pena.
A situação dos presos provisórios também deve ser revista. O
governo federal, explicou Moraes, vai sugerir a criação de uma força tarefa
nacional com as defensorias públicas e analisar junto ao Judiciário a
realização de um mutirão de audiências de custódia para presos provisórios por
crimes sem violência.
"Esse contingente de presos provisórios no Brasil, de
260 mil, 42% do total, esse contingente todo não teve audiência de custódia.
Não teve porque não existia. Muitos, se passassem pela audiência, o juiz daria
a liberdade provisória", afirmou o ministro.
"Primeiro, esse mutirão de defensores públicos analisa.
O que o juiz entender que poder soltar, imediatamente liberta, esses presos sem
ameaça", explicou Moraes. "Óbvio que ninguém vai fazer audiência de
custódia para preso por roubo à mão armada", concluiu.
“Precisamos parar de ficar entregando soldados ao crime
organizado”, declarou Moraes ao defender a liberação de parte dos presos
provisórios para que não sejam cooptados por facções durante a permanência na
prisão.
Atualização de dados da população carcerária
Outra frente de trabalho, explicou Moraes, será a
disponibilização online para diversas esferas do governo de dados da população
carcerária brasileira. Os três primeiros módulos deverão estar prontos dentro
de seis meses.
O primeiro visa coletar e atualizar informações de
estabelecimentos prisionais com dados sobre vagas gerais, por regime, por
gênero, instalações de saúde e de educação, entre outros.
O segundo módulo buscará obter informações pessoais do preso
como dados pessoais e criminais, incluindo o seu ingresso no sistema prisional.
O terceiro, informações processuais relativas ao processo criminal do preso com
uma interface junto aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Outros três módulos deverão começar a ser instalados em
dezembro de 2017 e focarão na gestão prisional e em inteligência, segundo o ministro.
Construção de presídios
Como anunciado nesta quinta, o ministro repetiu que o
presidente Michel Temer liberou R$ 200 milhões para construção de cinco
presídios federais, um em cada região do país. A localização de cada um deverá
ser definida até o final do mês. Outros R$ 230 milhões serão investidos em
equipamentos de segurança para presídios estaduais.
"Não adianta nada construirmos presídios se não tiver
equipamentos de segurança [...] Todos os presídios terão raio x e scanners para
garantir a dignidade da visita e também para garantir a segurança da sociedade,
para impedir que entrem armas, drogas e celulares. Não haverá mais desculpa
para a entrada. Se todos vão passar por raio x e scanner, se haverá bloqueador
de celular, só haverá desculpa se houver corrupção para entrar", disse.
Além do R$ 1,2 bilhão já depositados na semana passada na
conta dos estados, o governo deverá liberar mais R$ 1,8 bilhão até o final do
ano, disse Moraes. O depósito dependerá da apresentação de projetos por cada
estado. Outra contrapartida dos estados para os investimentos será a separação
dos presos pelo grau de periculosidade.
Combate ao tráfico e segurança nas fronteiras
O combate ao crime organizado terá como foco o tráfico
internacional de drogas e de armas, segundo o ministro. Serão três eixos
previstos no plano: atuação conjunta com países vizinhos (fronteiras, inteligência
e informação e operações); fiscalização, proteção e operações nas fronteiras; e
atuação conjunta com as policiais estaduais.
Segundo Moraes, uma das ideias é criar normas gerais,
aplicadas a países parceiros do Mercosul, por exemplo, para tornar mais rígido
o controle de armas que atravessam as fronteiras.
"O Brasil tem relações comerciais e diplomáticas com
esses países, concedeu empréstimos para esses países. Por que não construir uma
normatividade geral sobre o controle e fiscalização de armas? Por que temos que
ficar combatendo e sabemos que o brasileiro atravessa a fronteira e obtém
algumas armas lá sem autorização legal?", disse.
Segundo o ministro, já há uma "boa vontade geral"
dos países para criação dessas regras.
Radares
O governo prevê a ampliação dos radares Alerta Brasil com
mais 837 câmeras da PRF, totalizando 935 unidades. Atualmente são 98 câmeras em
todo o país. O sistema do programa deverá ser integrado com as redes estaduais
de identificação de veículos.
“Disponibilizaremos os nossos dados de identificação com os
estados que tenham o sistema e com o Dnit também”, declarou o ministro.
Ampliação do banco de DNA
Uma frente de trabalho do plano inclui a ampliação da
inserção dos perfis genéticos no banco de dados de DNA do governo federal e o
compartilhamento nacional desse banco de impressões digitais com IMLs do país.
O plano ainda prevê a criação de um laboratório central de
Perícia Criminal em Brasília em apoio aos estados. O ministro avisou, porém,
que ele não poderá ser construído em 2017 por falta de recursos.
Comunicação digital
Outra ação anunciada por Moraes prevê a ampliação da área de
cobertura para a comunicação via rádio digital e uma maior intercomunicação com
os órgãos de segurança dos estados. A medida terá como foco o monitoramento das
fronteiras.
Força Nacional e PRF
Em relação à Força Nacional, o governo federal pretender
ampliar de forma gradativa o efetivo da corporação para realizar mais operações
conjuntas com as polícias federal, rodoviária federal e estaduais.
Quanto à Polícia Rodoviária Federal (PRF), deverá haver
acordos de cooperação com as polícias militares rodoviárias para otimizar a
fiscalização em rodovias e principais rotas viárias brasileiras.
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