O exorcismo era praticado por Jesus Cristo, que autorizou a realização do ato por seus apóstolos.
Ao mesmo tempo, a Igreja não gosta de divulgar o assunto – Reprodução |
De tempos em tempos, a Igreja Católica lança uma manifestação
aos seus religiosos espalhados pelo mundo sobre o exorcismo. É uma espécie de
lembrete a todos eles a respeito de uma das tarefas que integram a gênese da
tradição cristã.
O exorcismo era praticado por Jesus Cristo, que autorizou a
realização do ato por seus apóstolos. Serviu como uma espécie de peça de
publicidade cristã nos tempos remotos como uma legitimação do poder de Deus
para atrair mais adeptos. No entanto, seu legado é obscuro, apesar da
multiplicação de filmes com temática exorcista. Ainda na atualidade causa
curiosidade e aquele medo que parece um ímã, atraindo atenção assim como os
filmes de terror. Ao mesmo tempo, a Igreja não gosta de divulgar o assunto.
O Bispo Leomar Brustolin é o especialista indicado para tratar de assuntos ligados a exorcismo - joão mattos/especial |
Bispo auxiliar de Porto Alegre, Leomar Brustolin é o
indicado da Arquidiocese local para tratar do assunto. Segundo ele, há dois
padres na capital com curso de exorcista no Vaticano, além de outros nomes que
podem realizar o serviço. Brustolin afirma que a Igreja Católica não gosta de
publicizar os exorcismos por diversos motivos.
Um deles é simplório. Se as
pessoas soubessem que há especialistas na Cúria Metropolitana, uma fila de
gente se dizendo possuída pelo demônio se formaria rapidamente em frente ao
prédio, diz, sorridente. Ele compara a ideia que se tem da função com as cenas
de exorcismo que aparecem na TV, veiculadas por outras religiões. “Se fosse
assim seria fácil. Exorcismo de verdade é muito mais complexo.”
Outro lado do malefício da exposição do ritual é religioso.
A curiosidade gerada pelo mal beneficiaria somente ao próprio diabo. “Em um
mundo com crise de fé muito intensa, o mal cresce”, lembra.
Por trás da recomendação de que as dioceses tenham seus
exorcistas definidos está uma tentativa de limitar a sua atuação a religiosos
de confiança, ainda que a Igreja não confirme com essas palavras. Com a medida,
“se controla muito e se cuida”, reforça Brustolin. “Não queremos manipular o
sagrado”, completa.
Possessões
Antropólogo, professor da UFRGS no Programa de Pós-graduação
em Antropologia e estudioso do catolicismo, Carlos Alberto Steil concorda com a
hipótese de freio a atos duvidosos de exorcismo, estabelecendo parâmetros para
o que é uma possessão e quem pode exercer o serviço. “A preocupação é em
definir e controlar a prática, especialmente a partir da renovação carismática,
que se aproxima bastante do modelo da comunidade evangélica.”
Steil adentra a seara da interpretação cultural das
possessões. “No contexto brasileiro, a possessão tem uma proximidade das religiões
de matriz africana, onde também tem o êxtase, a possessão. Mas não é algo
negativo. Acho que o que a Igreja define por possessão não é a mesma coisa que
se entende na comunidade. É um campo muito nebuloso, movediço. Dentro da
própria Igreja há o crescimento de rituais que os carismáticos chamam de
libertação, onde tem uma presença do demônio.”
Teses recentes de doutorado apontam que o demônio é algo
presente nas pessoas e que não se combate com exorcismo, pondera Steil. Já o
bispo confia nos 2 mil anos de tradição da Igreja e sua adaptação aos tempos.
Reconhece erros do passado, como a confusão entre possuídos pelo demônio e
epiléticos. Por isso, hoje o exorcismo é a último opção em todos os casos. Ele
confirma que os trabalhos de exorcismo são muito mais raros do que se pensa e
não são feitos registros ao menos não que se possa acessar publicamente.
Se para os mais céticos a Igreja parece íntima da
paranormalidade quando segue dando plena importância ao exorcismo em pleno
século 21, a instituição mostra que conhece bem a realidade. Para estes tempos
de violência, desamor e descrença, Brustolin tem uma definição bastante terrena
diante da posição óbvia da Igreja de combater o mal com fé. “Parece que estamos
no abatedouro prestes a sermos abatidos.”
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