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16 de ago. de 2017

Bispos brasileiros querem especialistas em exorcismo nas igrejas

O exorcismo era praticado por Jesus Cristo, que autorizou a realização do ato por seus apóstolos.

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O exorcismo era praticado por Jesus Cristo, que autorizou a realização do ato por seus apóstolos. 


Ao mesmo tempo, a Igreja não gosta de divulgar o assunto – Reprodução
Ao mesmo tempo, a Igreja não gosta de divulgar o assunto – Reprodução
De tempos em tempos, a Igreja Católica lança uma manifestação aos seus religiosos espalhados pelo mundo sobre o exorcismo. É uma espécie de lembrete a todos eles a respeito de uma das tarefas que integram a gênese da tradição cristã.

O exorcismo era praticado por Jesus Cristo, que autorizou a realização do ato por seus apóstolos. Serviu como uma espécie de peça de publicidade cristã nos tempos remotos como uma legitimação do poder de Deus para atrair mais adeptos. No entanto, seu legado é obscuro, apesar da multiplicação de filmes com temática exorcista. Ainda na atualidade causa curiosidade e aquele medo que parece um ímã, atraindo atenção assim como os filmes de terror. Ao mesmo tempo, a Igreja não gosta de divulgar o assunto.

O Bispo Leomar Brustolin é o especialista indicado para tratar de assuntos ligados a exorcismo - joão mattos/especial
O Bispo Leomar Brustolin é o especialista indicado para tratar de assuntos ligados a exorcismo - joão mattos/especial
Bispo auxiliar de Porto Alegre, Leomar Brustolin é o indicado da Arquidiocese local para tratar do assunto. Segundo ele, há dois padres na capital com curso de exorcista no Vaticano, além de outros nomes que podem realizar o serviço. Brustolin afirma que a Igreja Católica não gosta de publicizar os exorcismos por diversos motivos. 

Um deles é simplório. Se as pessoas soubessem que há especialistas na Cúria Metropolitana, uma fila de gente se dizendo possuída pelo demônio se formaria rapidamente em frente ao prédio, diz, sorridente. Ele compara a ideia que se tem da função com as cenas de exorcismo que aparecem na TV, veiculadas por outras religiões. “Se fosse assim seria fácil. Exorcismo de verdade é muito mais complexo.”

Outro lado do malefício da exposição do ritual é religioso. A curiosidade gerada pelo mal beneficiaria somente ao próprio diabo. “Em um mundo com crise de fé muito intensa, o mal cresce”, lembra.

Por trás da recomendação de que as dioceses tenham seus exorcistas definidos está uma tentativa de limitar a sua atuação a religiosos de confiança, ainda que a Igreja não confirme com essas palavras. Com a medida, “se controla muito e se cuida”, reforça Brustolin. “Não queremos manipular o sagrado”, completa.

Possessões

O Bispo Leomar Brustolin é o especialista indicado para tratar de assuntos ligados a exorcismo - joão mattos/especial

Antropólogo, professor da UFRGS no Programa de Pós-graduação em Antropologia e estudioso do catolicismo, Carlos Alberto Steil concorda com a hipótese de freio a atos duvidosos de exorcismo, estabelecendo parâmetros para o que é uma possessão e quem pode exercer o serviço. “A preocupação é em definir e controlar a prática, especialmente a partir da renovação carismática, que se aproxima bastante do modelo da comunidade evangélica.”

Steil adentra a seara da interpretação cultural das possessões. “No contexto brasileiro, a possessão tem uma proximidade das religiões de matriz africana, onde também tem o êxtase, a possessão. Mas não é algo negativo. Acho que o que a Igreja define por possessão não é a mesma coisa que se entende na comunidade. É um campo muito nebuloso, movediço. Dentro da própria Igreja há o crescimento de rituais que os carismáticos chamam de libertação, onde tem uma presença do demônio.”

Teses recentes de doutorado apontam que o demônio é algo presente nas pessoas e que não se combate com exorcismo, pondera Steil. Já o bispo confia nos 2 mil anos de tradição da Igreja e sua adaptação aos tempos. Reconhece erros do passado, como a confusão entre possuídos pelo demônio e epiléticos. Por isso, hoje o exorcismo é a último opção em todos os casos. Ele confirma que os trabalhos de exorcismo são muito mais raros do que se pensa e não são feitos registros ao menos não que se possa acessar publicamente.

Se para os mais céticos a Igreja parece íntima da paranormalidade quando segue dando plena importância ao exorcismo em pleno século 21, a instituição mostra que conhece bem a realidade. Para estes tempos de violência, desamor e descrença, Brustolin tem uma definição bastante terrena diante da posição óbvia da Igreja de combater o mal com fé. “Parece que estamos no abatedouro prestes a sermos abatidos.”

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